Terapia Ericksoniana
Breve histórico
Os fenômenos hipnóticos fazem parte da vida cotidiana de todo ser humano. Todos os dias, várias vezes por dia, da infância até qualquer idade, em todas as relações, todas as pessoas são expostas a tais experiências. Por ser um fenômeno universal, pode-se iniciar o estudo da história da hipnose desde o surgimento do homem, no entanto, o primeiro que tentou torná-la científica foi Mesmer.
Em 1784, Benjamim Franklin, Lavoisier, Guillotin e Bailly participaram da comissão que avaliou cientificamente o trabalho de Mesmer. Apesar de o paciente, objeto do estudo, ter sido curado, a comissão ficou presa ao fato de terem obtido sucesso substituindo os magnetos que Mesmer utilizava, por madeira.
Ainda assim, James Esdaile, médico inglês, utilizou o conceito de Mesmer em cirurgias sem anestesia durante a guerra na Índia. Já Freud fez seus estudos de casos de histeria com Charcot, na escola de Salpêtrière, que via o estado de transe como patológico; Freud, focado no inconsciente, deixou de lado a hipnose e partiu para a livre associação, depois de muitos estudos com Breuer que, por sua vez, passou a utilizar o transe menos profundo. Apesar disso, Freud, em 1918, no Congresso Psicanalítico de Budapeste, exaltou a importância de associar hipnose a psicanálise.
Clark Hull (1884-1952), professor de psicologia em Yale, lança o livro Hipnosys and Sugestibility e Milton Erikson (1901-1980), por sua vez, seguindo os resultados de Hull, deu partida ao seu trabalho, utilizando indução personalizada, em vez da indução clássica, fazendo do paciente seu próprio indutor.
Um pouco sobre Milton H. Erickson
Milton Hyland Erickson (1901-1980), psiquiatra americano, filho de fazendeiros, aos 17 anos com poliomielite, ouviu seu médico dizer “este menino não passará do amanhecer”; indignado, pediu a sua mãe que o colocasse na cama de forma que ele pudesse olhar pelo espelho, para fora da janela. Erickson passou toda a noite pensando: “Se eu vir o sol nascer, não morrerei.” Aos primeiros raios de sol, entrou em coma profundo, despertando dias depois, bem. Essa foi a primeira vez que experimentou sua força interior.
Tempos depois, paralítico, sentado em sua cadeira de balance observando trabalhadores no campo, sentiu uma vontade enorme de estar com eles. Apesar de paralisado, sua cadeira começou a balançar. Ele percebeu que seu corpo avançava para a frente, acompanhando seu pensamento. A partir disso, treinou suas mãos, depois seus braços e pernas e em pouco tempo se recuperou.
Desfrutar do resultado bem sucedido da sua força motivadora interna estimulou Erickson a experimentar o mesmo princípio para a hipnose: a força vem de dentro da própria pessoa; ou seja, compreendendo que não é o terapeuta que cura o paciente, o terapeuta, pode, a partir das informações que o paciente trás, ajudá-lo a se curar.
Conceito de Hipnose
A hipnose não é um tipo de terapia, como a psicanálise ou a terapia comportamental. Mas é um procedimento que pode ser utilizado para facilitar a terapia. A hipnose tem sido usada no tratamento da dor, da depressão, ansiedade, estresse, hábitos viciosos e muitos outros problemas psicológicos e médicos. Entretanto, ela pode não ser útil para todos os problemas psíquicos, nem para todos os clientes.
Para Teresa Robles a hipnose é um estado de transe alterado de consciência, quando, a pessoa, ainda que acordada, tem grande atividade interna, sem perder o estado de alerta; a atenção da pessoa fica orientada mais para o interior do que para o exterior, enquanto experimenta sensações e sentimentos, podendo ver imagens, vivenciar regressões, anestesia e outros fenômenos.
A Hipnoterapia Ericksoniana é uma abordagem estratégica que utiliza hipnose feita sob medida para cada paciente, focada na solução do problema (sintoma) por ele trazido; como todo sintoma é uma busca natural de alívio e cura, ao entender o que ele quer dizer, pode-se chegar a resolução dos conflitos da mente que, em geral, tentam obedecer ordens contraditórias.
Técnicas hipnoterápicas
As técnicas hipnóticas da abordagem ericksoniana trazem a tona os recursos do paciente, utilizando tudo que ele diz em estórias montadas especificamente para ele, assim como, metáforas e trocadilhos, promovendo confusão mental através de intervenções paradoxais, com o objetivo de fazer com que o paciente se liberte de seus conflitos emocionais e mude suas crenças.
Quando o paciente apresenta um sintoma, ele desloca um sentimento ruim do fato primitivo e principal que causa a dor, para um fato menor, atual e desagradável. A terapia ericksoniana vai direto ao ponto e lá trabalha rapidamente, uma vez que facilita acesso ao hemisfério direito do cérebro, onde estão as emoções e a mente inconsciente.
O terapeuta, já munido de informações para construir a nova estória do paciente, conduz a hipnose regressiva e faz a pessoa contactar o sentimento desagradável atual, para alcançar a memória principal e primitiva; porque é possível combinar informações conscientes com informações do inconsciente, o terapeuta então mostra, através de metáfora e ou estória personalizada que, o que foi vivenciado como dor passou e que a pessoa agora é capaz de superar o momento traumático. Mais ainda, além de fazer o paciente reviver o fato, é imprescindível que o terapeuta inclua uma saída (solução) para o problema original no final da estória hipnótica e o estimule a ver um futuro promissor e bem sucedido.
Outras técnicas que aceleram ainda mais o efeito da abordagem ericksoniana são o uso da respiração e a utilização de palavras entremeadas repetidas vezes para proteger e desencadear, de maneira indireta, processos de mudança: aprendendo, desfrutando, saudavelmente, automaticamente, protegidamente.
Alguns cuidados são necessários ao usar tais palavras; por exemplo, se relaxar é proibido para a pessoa, seu inconsciente é capaz de castigá-la se ela estiver sem fazer nada; por esta razão, numa indução hipnótica, ao sugerir que a pessoa está “relaxando”, é muito importante que o terapeuta acrescente palavras ou expressões do tipo: “do seu jeito”, “no seu ritmo”, “protegidamente”, para evocar na pessoa seus recursos internos, ultrapassando indiretamente a patologia e fazendo com que o processo siga do nível inconsciente para o bem-estar.