Análise Transacional
Eric Berne (1910-1970), judeu e psiquiatra canadense naturalizado americano; médico aos 21 anos e aos 25 mestre em cirurgia, “divorciado” em 1956 da psicanálise (uma vez que os círculos acadêmicos não perdoaram o que ele fez com o que Freud havia descoberto), criou uma nova teoria da psicologia individual, comportamental e social – a Análise Transacional. Na A.T., como é conhecida, a substituição dos termos escolhidos por Freud por nomes do cotidiano, simplifica e dá fácil acesso ao leigo a tão precioso conteúdo teórico científico, porque, por exemplo, em vez de chamar ego, superego e id, Berne dizia estado de ego Pai, Adulto e Criança.
Outras Influências
Ainda que o berço da Análise Transacional tenha sido a Psicanálise, Berne também integrou conhecimento de outros estudos, tais como os de Adler e de Penfield.
Adler, discípulo de Freud e criador da Psicologia Individual, estuda o que Eric Berne chamaria mais tarde de Argumento de Vida. Berne também utilizou os estudos de Penfield, neurocirurgião canadense e pesquisador da epilepsia. Usando anestesia local para deixar o paciente lúcido, Penfield aplicava uma corrente elétrica fraca, transmitida por uma sonda, estimulando áreas selecionadas no córtex temporal do cérebro do paciente. Estudando o processo de registro das experiências passadas, ele verificou que através da estimulação dessa área da cabeça com eletrodos, lembranças que derivavam de memórias arquivadas podiam ser acionadas, revividas e (re)sentidas no aqui e agora. Ao finalizar suas pesquisas ficou entendido que todos os acontecimentos da vida de um ser humano se encontram arquivados no cérebro; o homem é capaz de reconstruir acontecimentos vividos, associados às emoções sentidas na ocasião (reproduzir o que viu, ouviu, sentiu e pensou) e que “os estímulos que recebemos nas nossas experiências cotidianas agem da mesma forma, permitindo um deslocamento para o passado, seja por uma fração de segundo, durante alguns minutos ou até horas.”
A Análise Transacional é uma teoria da psicologia individual, social, comportamental e humanista que utiliza um conjunto de instrumentos e técnicas reeducadoras voltadas para mudanças de postura conscientes e imediatas. A A.T. é didática por ser objetiva e diagramável, além de igualitária, uma vez que o terapeuta ensina teoria do comportamento ao seu cliente, responsabilizando-o por sua própria mudança, desde o momento em que estabelece o contrato terapêutico. A linguagem da A.T. é tão simples que uma criança de 8 anos é capaz de acompanhar o raciocínio feito com o vocabulário da Análise Transacional.
Os instrumentos da Análise Transacional são de fácil assimilação: Estados de Ego, Transação, Carícias, Posição Existencial, Emoções, Estruturação do Tempo, Jogos Psicológicos, Impulsores e Argumento. Cada instrumento compreendido sistêmicamente é suficiente para disparar o processo de transformação do comportamento. É comum que durante uma sessão o terapeuta pegue uma folha de papel e desenhe um diagrama, demonstrando tecnicamente o que o cliente relatou; a partir daí a pessoa enxerga sua contribuição e a dinâmica que o aprisiona. Consciente e responsabilizado, ele passa a escolher novos comportamentos que permitam mudanças pragmáticas em sua vida.
O triângulo da mudança pode disparar o processo em qualquer dos vértices para, em seguida, se mover para os outros dois: Pensar, Sentir e Agir. Após explicar ao cliente seu funcionamento, o Analista Transacional pode sugerir tarefas comportamentais; as tarefas são inicialmente cumpridas como exercícios “mecanicamente”, sem que o sentimento acompanhe a ação. Ao mesmo tempo em que o cliente muda o comportamento muda o pensamento (as crenças), quando entende sua dinâmica com a explicação didática que o terapeuta apresenta; aos poucos, o sentimento acompanha a mudança coerente com o novo comportamento e pensamento.
Essa é uma abordagem cognitiva e comportamental que funciona como terapia breve para muitas questões levadas para o consultório. O terapeuta pode, através dos instrumentos, mostrar o que se passa com o cliente de uma forma simples e, por essa razão, facilmente entendida. Como a Análise Transacional é interativa, é possível utilizar intervenções de outras linhas de trabalho ao mesmo tempo.
O cliente, após um tempo, está, em geral, preparado para ser, ele mesmo, o seu observador, dando prosseguimento ao processo de crescimento que irá acompanhá-lo pelo resto da vida.
Para a criação do curso Educação Relacional foi importante utilizar o roteiro do 101 da Análise Transacional como espinha dorsal, acrescido, naturalmente, do conteúdo de todas as formações que fiz.